À beira do Mar da Galileia, sob o céu dourado do entardecer, um pescador cansado lançava suas redes, sem imaginar que sua vida estava prestes a mudar para sempre.
Simão, filho de Jonas — que viria a ser conhecido como Pedro — não buscava glória, nem poder. Ele buscava peixes. Mas foi ali, naquele cotidiano simples, que o Cristo vivo o chamou com palavras que ecoariam pelos séculos: “Segue-me, e eu farei de ti um pescador de homens” (Mateus 4:19).
Pedro largou tudo — redes, barco, sustento — e seguiu Jesus. Tornou-se um dos seus mais próximos discípulos. Impulsivo, sincero, muitas vezes contraditório, Pedro representa como poucos a fragilidade e a força do coração humano.
Quando Jesus perguntou aos discípulos quem ele era, foi Pedro quem respondeu com ousadia: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:16). Em resposta, Jesus lhe deu um novo nome e um novo destino: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mateus 16:18).
Mas a rocha também tremeu.
Na noite em que Jesus foi traído, Pedro, tomado de medo, negou conhecer seu Mestre. Não uma, mas três vezes — como o próprio Cristo havia predito. E então o galo cantou. Pedro saiu e chorou amargamente (Lucas 22:61-62). Foi ali, no fundo da dor e do arrependimento, que o coração de Pedro foi quebrado — para que pudesse ser reconstruído.
Após a ressurreição, Jesus apareceu novamente e perguntou três vezes: “Pedro, tu me amas?” (João 21:15-17). E três vezes Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo.” A cada resposta, Jesus lhe confiava uma missão: “Apascenta as minhas ovelhas.” Aquele que havia negado agora era restaurado com amor e enviado como líder.
Pedro passou a vida anunciando o Evangelho com coragem. Enfrentou prisões, perseguições e ameaças, mas nunca mais recuou. Em Atos dos Apóstolos, vemos Pedro curando, pregando e liderando os primeiros passos da Igreja nascente, já como o primeiro Papa — o elo visível entre Cristo e seu rebanho terreno.
Seu fim veio em Roma, onde, segundo a tradição, foi crucificado de cabeça para baixo, por não se considerar digno de morrer como seu Senhor. Assim, sua morte selou com sangue o testemunho de sua fé.
Pedro deixou à humanidade não apenas cartas repletas de esperança e exortação — como as que levam seu nome no Novo Testamento — mas também um exemplo eterno de transformação. Ele nos lembra que não importa o quão frágeis sejamos, a graça de Deus é capaz de nos levantar, moldar e usar para propósitos grandiosos.
Pedro, o homem que teve medo, se tornou a pedra que sustentaria a Igreja. Um pescador que, ao fim, não buscava mais peixes, mas almas.
E ainda hoje, ao ouvirmos o eco de suas palavras e passos, somos chamados também: “Segue-me.”
Cláudio Albano/Guia São Miguel