Houve um tempo em que São Miguel do Iguaçu parava para ouvir a música. Era a década de 90. A internet ainda era um luxo distante para muitos, e os celulares não roubavam a atenção do público.
O que fazia os corações vibrarem era o som das vozes que ecoavam no salão do Clube Panorama e, mais tarde, no CTG Querência Amada. Era o tempo do Felimu — Festival Litero Musical.
Às quintas-feiras, o palco ganhava vida com a música popular; às sextas, era o sertanejo que reinava; e, no sábado, a grande final reunia o melhor dos dois mundos. A cada noite, as cadeiras se enchiam, os olhos brilhavam e as palmas se tornavam parte do espetáculo.
Era mais do que uma competição — era um encontro de almas apaixonadas pela arte de cantar.
Vieram intérpretes de cidades vizinhas e de todos os cantos da região, carregando sonhos, ensaios e uma coragem admirável. Alguns com os pés trêmulos, outros com a voz firme, mas todos com o mesmo desejo: tocar corações. E tocavam. O público, em silêncio respeitoso, ou em coro emocionado, vivia cada apresentação como se fosse única.
Nos bastidores, risos, abraços, incentivos. Rivalidade? Havia, sim — saudável e respeitosa — mas o que predominava era a amizade que surgia nos bastidores e resistia mesmo depois que as luzes se apagavam. Muitas dessas amizades duram até hoje, fortalecidas por lembranças de noites em que o talento era celebrado com verdade e sentimento.
Os jurados, escolhidos a dedo, traziam seriedade à avaliação. Mas o que ficava mesmo era o reconhecimento do público, os aplausos sinceros, as lágrimas que escapavam nos refrões mais intensos. E quando a última música terminava e o silêncio se impunha, havia sempre um gostinho de quero mais.
O Felimu foi muito mais do que um festival. Foi um capítulo importante da história cultural de São Miguel do Iguaçu. Um tempo em que as famílias se reuniam para torcer, os amigos se organizavam para apoiar seus intérpretes preferidos, e a cidade respirava arte.
Hoje, o Felimu vive na memória. Nos álbuns de fotografia, nas fitas antigas, nos corações de quem participou, organizou, torceu, se emocionou. Não há quem tenha vivido aqueles dias que não sinta uma pontada de saudade. Porque o Felimu foi isso: emoção pura, construída com notas, vozes e sentimentos.
E enquanto houver alguém que se lembre com carinho, ele nunca terá realmente acabado.
Cláudio Albano
Redação Guia São Miguel
Foto: Troféus/Cláudio Albano