O déficit primário das empresas estatais brasileiras atingiu um recorde histórico em 2024, chegando a R$ 8,07 bilhões, segundo dados divulgados pelo Banco Central na última sexta−feira(31). Esse é o pior resultado desde o início da série histórica da autarquia, em dezembro de 2001.
O montante supera o 6,7 bilhões registrado pelas estatais federais em 2023 e reflete os desafios financeiros enfrentados por empresas públicas em todos os níveis de governo.
O levantamento do BC considera as contas de estatais federais, estaduais e municipais, com exceção de Petrobras, Eletrobras e bancos públicos, como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.
Enquanto as estatais federais foram responsáveis pela maior parte do rombo, as empresas controladas por estados e municípios também contribuíram com déficits de R$ 1,3 bilhão 39 milhões, respectivamente.
Correios Puxam Déficit das Federais
De acordo com Elisa Leonel, secretária de Coordenação e Governança das Empresas Estatais do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI), os Correios foram um dos principais responsáveis pelo resultado negativo das estatais federais em 2024.
Sozinha, a empresa registrou um déficit primário de R$ 3,2 bilhões no ano. Apesar do rombo, Leonel destacou que parte expressiva do déficit está relacionada a investimentos realizados pelas estatais, o que nem sempre reflete uma saúde financeira comprometida.
A ministra Esther Dweck (Gestão) reforçou essa visão em entrevista a jornalistas na quinta-feira (30). Ela explicou que um resultado deficitário não significa necessariamente que as empresas estão em má situação financeira. “Os investimentos estão sendo pagos com recursos que já estavam no caixa das companhias. Companhias com lucros expressivos também registram déficit”, afirmou.
Como exemplo, citou as estatais de tecnologia Serpro e Dataprev, que, apesar de terem lucros líquidos até o terceiro trimestre de 2024, também apresentaram déficit orçamentário.
Comparação com 2023
Em 2023, o déficit total das estatais foi de R$ 2,3 bilhões, 1,3 bilhão das estaduais, R$ 656 milhões das federais e 313 milhões das municipais.
O salto para R$ 8 bilhões em 2024 chama a atenção e levanta debates sobre a eficiência da gestão das empresas públicas e a necessidade de revisão de estratégias para equilibrar as contas.
Investimentos x Sustentabilidade Financeira
Apesar do cenário preocupante, autoridades governamentais argumentam que parte do déficit está atrelada a investimentos necessários para modernizar e expandir os serviços oferecidos pelas estatais.
No entanto, especialistas alertam que, sem um planejamento financeiro robusto, o endividamento dessas empresas pode se tornar insustentável no longo prazo.
Enquanto o governo busca justificar os números como reflexo de investimentos estratégicos, a sociedade e o mercado aguardam medidas concretas para garantir que as estatais possam cumprir seu papel sem comprometer as contas públicas.
O recorde de déficit em 2024 serve como um alerta para a necessidade de maior transparência e eficiência na gestão das empresas estatais brasileiras.