Brasil tem aumento de 107% nos focos de incêndios florestais
11/09/2024 Brasil
De janeiro até agora, foram registrados cerca de 165 mil pontos de queimadas, segundo o Inpe

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O Brasil registrou 164.543 focos de incêndios florestais em 2024, um aumento de 107% na comparação com o mesmo período de 2023. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro a setembro, o país já quase atingiu o total de 189 mil queimadas registradas ao longo de todo o ano passado. Só nos nove primeiros dias deste mês, foram notificados 37.492 focos de incêndios florestais. 

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Entre os estados mais afetados estão Mato Grosso, com 10.593 pontos de queimadas em setembro; seguido por Pará, com 9.121; e Tocantins, com 3.178. Já entre os municípios, os mais atingidos são São Félix do Xingu (PA), com 2.076 focos de incêndio florestal; Altamira (PA), com 1.861; e Novo Progresso (PA), com 1.311.

De janeiro até agora, 50,1% dos pontos de queimadas aconteceram no bioma da Amazônia, 32,4% no Cerrado, 8,8% na Mata Atlântica, 6% no Pantanal e 2,6% na Caatinga.

O tenente-coronel Anderson Ventura, do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, ressalta que, apesar da prática de colocar fogo em vegetação ser vedada por lei, mais de 90% dos incêndios florestais são causados pela atividade humana.


“Elas fazem uso do fogo para, por exemplo, limpar lotes, queimar lixos, ao invés de usar a destinação correta e jogar em um local adequado. As pessoas também usam [fogo] para se aquecer, quando vão acampar, fazem uma fogueirinha. Depois não apagam ela corretamente e perdem o controle. Tem rituais religiosos que envolvem fogo. O uso do fogo faz parte das atividades humanas. Só que nesse período de agora, agosto, setembro, se a população pudesse não usar o fogo, seria o ideal. Não use o fogo para nada.”


Cuidados com o fogo

Na semana passada, dois irmãos de 38 e 47 anos morreram no município de Pedra do Anta, na Zona da Mata mineira, ao tentarem combater um incêndio florestal próximo do sítio da família. 

Por isso, a principal recomendação do tenente Ventura é, ao identificar um ponto de queimada, acionar o Corpo de Bombeiros pelo telefone 193 e não tentar controlar as chamas sozinho.


“Não basta ter a ferramenta adequada, tem que ter o treinamento adequado e um suporte adequado. Talvez duas pessoas bem treinadas não sejam suficientes para combater um fogo. Você só vai saber disso se você for um especialista em combate a incêndios florestais para poder fazer a leitura do cenário, para saber se a situação é segura, se o fogo é passível de ser combatido ou não. Tem alguns focos de incêndio que a gente não pode combater corpo a corpo e precisa de outras estratégias.”


Fumaça e cuidados com a saúde

Em função das queimadas, uma enorme massa de fumaça cobriu quase 60% do território nacional, chegando até mesmo em outros países na América do Sul, como Argentina e Uruguai. 

No último domingo (8), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC) e São Paulo (SP) foram consideradas as três cidades com maiores níveis de poluição do mundo, segundo o monitoramento da IQAir, empresa suíça de tecnologia de qualidade do ar. Nesta terça-feira (10), a capital São Paulo ainda permanece no top 5.

A otorrinolaringologista Marcela Suman explica que essa fumaça é prejudicial ao sistema respiratório, à mucosa da boca e à saúde dos olhos.


“A fumaça contém componentes tóxicos, que é um material particulado formado por uma mistura de componentes químicos. Além das partículas que a gente consegue enxergar, de fuligem e sujeiras que são visíveis, essa fumaça tóxica também contém partículas ultrafinas, microscópicas que, ao serem inaladas, percorrem todo o sistema respiratório, conseguem transpor a barreira dos nossos pulmões e chegam até a corrente sanguínea.”


Segundo a doutora, a fumaça também libera monóxido de carbono, um gás altamente tóxico que, ao chegar no sangue, impede o transporte de oxigênio para os órgãos, causando intoxicação e risco de morte.

A especialista destaca os principais sintomas da irritação do sistema respiratório, que podem ser leves, moderados e graves, dependendo do nível de poluição do ar e do tempo e da proximidade de exposição à fumaça:

  • obstrução nasal;
  • coceira com ardência nos olhos, nariz e boca;
  • lacrimejamento ou vermelhidão nos olhos;
  • crise de espirro;
  • tosse seca e intensa;
  • sensação de falta de ar, podendo haver chiado no peito;
  • taquicardia;
  • sensação de cansaço;
  • dor de cabeça;
  • dor de garganta e rouquidão.

“As crianças e os idosos são mais vulneráveis a esses efeitos tóxicos da fumaça, das queimadas, pois tem uma menor reserva fisiológica. E os pacientes alérgicos — como quem tem rinite, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica — tendem a apresentar sintomas mais exacerbados e muitas vezes com maior gravidade, talvez precisando até de hospitalização”, alerta a otorrinolaringologista.


A principal recomendação é aumentar a hidratação. “Porque por meio da água, a gente consegue filtrar tudo isso que é tóxico, que vai para a corrente sanguínea. [É preciso] manter a casa sempre limpa, fechada e umidificada. É bom lembrar de evitar vassouras, para não deixar essas partículas de fuligem e de sujeira mais suspensas [no ar]. E umidificar o ambiente da casa com vaporizadores, umidificadores, bacias com água ou até mesmo toalhas molhadas espalhadas pelo ambiente. Evitar, se possível, sair de casa enquanto houver essa fumaça tóxica que a gente consegue visualizar na atmosfera local”, orienta a doutora Marcela Suman.

Se for necessário sair de casa, mesmo com a forte presença da fumaça no ar, a orientação é usar uma boa máscara.

Fonte: Brasil 61
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

 
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