A noite de quinta-feira, sob um frio sutil em Porto Alegre, foi histórica. Não pela grandiosidade do adversário ou da competição. Mas o Grêmio fez uma das maiores goleadas de sua história moderna, construiu o maior resultado da Arena e passeou no 8 a 0 sobre o Aragua, com seis gols marcados na etapa inicial.
O Grêmio não chegava a oito gols em uma mesma partida desde 1999, ou seja, há 22 anos, quando fez o mesmo resultado sobre o Lajeadense, pelo Gauchão.
Ao observar o elenco e mudar peças, o técnico Tiago Nunes também viu um apetite que fica marcado especialmente se pensarmos em temporadas recentes, quando o time diminuía o ritmo com o placar favorável. Desta vez, não. Foram seis gols entre o minuto 2 e o 27 da etapa inicial, uma diretriz implementada pelo treinador.
Chama atenção que seis dos oito gols saíram dos pés dos atacantes: Luiz Fernando, Ferreira, Diego Souza e Churín. O Grêmio teve repertório e começou a mostrar algumas marcas de Tiago Nunes.
A partida foi usada pelo técnico justamente para testes. Usou Luiz Fernando, Darlan, Maicon e Diogo Barbosa entre os titulares — é bom citar que Matheus Henrique e Jean Pyerre foram desfalques por lesão. O contexto favoreceu para dar descanso a alguns jogadores.
— Cada jogo é enxergar uma oportunidade dos atletas em jogos e cenários diferentes, competitivos. Fisicamente, jogos mais táticos ou mais técnicos. Ainda avaliamos nosso elenco, que é muito bom. Mas estamos tentando encontrar as melhores formações, os atletas complementares para que a gente possa ter uma equipe equilibrada na maior parte do tempo — destacou o técnico Tiago Nunes.
Em menos de três minutos, Luiz Fernando aproveitou erro de Yéguez — o zagueiro seria substituído antes dos 30 minutos de jogo — para começar a contagem. A ponto da eficiência chegar a oito chutes e cinco gols marcados.
Tem sido uma constante, aliás, o Grêmio aproveitar os erros forçados dos rivais. Já criou chances assim contra Lanús e Caxias. As arrancadas de Ferreira também têm sido recorrentes e uma característica do Tricolor de Tiago Nunes.
Darlan atuou avançado, como meia, no lugar de Jean Pyerre, que tem lesão muscular, e apareceu no lance do segundo gol dentro da área, brigando pela bola, uma cobrança ao jogador da função. Luiz Fernando finalizou com oportunismo.
Maicon esteve ao lado de Thiago Santos como volante e ditou o ritmo. Isso durou a primeira etapa inteira, quando o Grêmio anotou outros quatro gols: Ferreira, duas vezes, em jogadas de velocidade pela esquerda, Diego Souza, de pênalti, e Hernández, contra.
Depois, no segundo tempo, Tiago Nunes armou o time no 4-1-4-1, com os Darlan e Maicon mais alinhados e Thiago Santos à frente da zaga. Mais um teste.
— A ideia do Darlan mais adiantado porque tem o passe, a construção. Durante toda formação dele, na qual eu trabalhei, ele tinha chegada na área, fazia gols na base. O Maicon também consegue fazer a bola circular, tem qualidade do passe. Tivemos três grandes passadores por dentro. Não tivemos tanta criatividade individual que o Jean nos dá. Mas com qualidade defensiva também — explicou Tiago.
Toques rápidos para envolver adversário
Foi possível retirar impressões que independem exclusivamente da qualidade adversária. Os jogadores estavam orientados a tentar dar no máximo dois toques na bola, especialmente na saída de jogo. E procurar virar o jogo para sair da pressão.
Além, claro, de um movimento mais natural de apoio na troca de passes. Ainda assim, tudo isso levando em conta o nível do adversário. O técnico Enrique García, inclusive, deixou o comando do clube venezuelano após a goleada — a quinta derrota consecutiva.
Ao mesmo tempo, o Grêmio concedeu chances para o Aragua, que tanto no primeiro quanto no segundo teve chances dentro da área e jogou para longe da meta de Brenno. Talvez fruto da desconcentração que um placar elástico gera.
No segundo tempo, Tiago Nunes chegou a formar uma dupla com Maicon e Darlan quando retirou Thiago Santos para a entrada de Pedro Lucas, um dos jovens observados.
Aliás, o treinador colocou três jogadores da base em suas cinco trocas: além de Pedro, entraram Guilherme Azevedo, este no intervalo, e Ricardinho, no fim da partida.
Churín, que fez o oitavo gol gremista, e Paulo Miranda completaram as alterações. Foi a partida com mais novidades do comandante em duas semanas de clube. Não só em nomes usados, mas também em movimentos táticos. Guilherme Azevedo foi talvez o mais tímido dos testes.
O 100% de aproveitamento em quatro partidas cria uma realidade tranquila para Tiago Nunes trabalhar no clube em sua arrancada e ajustar mais as ideias. O Tricolor tem pela frente a segunda partida da semifinal do Gauchão no domingo, na Arena, contra o Caxias.
GE
Foto: Lucas Uebel/Grêmio