O número de tornados registrados no Brasil vem aumentando de forma significativa nos últimos anos. De acordo com a Plataforma de Registro de Tempestades Severas, o país passou de 55 registros em 2021 para 88 em 2023, e tudo indica que 2025 poderá superar esse número, após a série de tornados que atingiram o Paraná e Santa Catarina na última semana.
Para os especialistas, o fenômeno não é novidade — mas a frequência e intensidade dos tornados recentes acendem um sinal de alerta.
“O tornado é uma coluna giratória, que desce da base de uma nuvem de tempestade, e ele vai durar tipicamente 10, 15 minutos, mas com altíssimo poder destrutivo”, explica Ernani Lima, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Na sexta-feira (7), diversos municípios do interior do Paraná e de Santa Catarina foram atingidos quase simultaneamente por um fenômeno chamado de “outbreak” — quando várias tempestades produzem múltiplos tornados no mesmo intervalo de tempo.
“Pelo menos dez tornados ocorreram, incluindo um de alta intensidade”, relata o meteorologista Maurício Oliveira, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Segundo ele, a primavera é o período mais propício para esse tipo de evento, devido à mistura de calor e umidade típicos da estação.
“Nossa área é talvez o segundo maior corredor de tornados do mundo em termos de extensão. É comum que isso aconteça aqui e que seja nesta época do ano”, explica Oliveira.
A Região Sul do Brasil reúne uma combinação rara e explosiva de fatores meteorológicos. De um lado, o ar quente e úmido da Amazônia é transportado por correntes de vento conhecidas como rios atmosféricos; de outro, o ar frio e seco vindo da Argentina avança pelos Pampas e encontra esse corredor de umidade.
“Esse contraste de massas de ar gera o que chamamos de cisalhamento vertical do vento, ou seja, o aumento da intensidade do vento conforme a altitude. É essa condição que favorece a formação das tempestades rotativas que podem gerar tornados”, detalha Ernani Lima, do INPE.
O eixo mais suscetível à ocorrência desses fenômenos se estende do sul do Mato Grosso do Sul até o oeste do Paraná, passando por Santa Catarina e o Rio Grande do Sul — justamente as áreas mais afetadas pelos recentes episódios.
O tornado mais mortal já registrado no país ocorreu em 1959, na divisa entre Santa Catarina e Paraná, atingindo as cidades de Palmas, União da Vitória e Canoinhas. O saldo foi trágico: cerca de 90 mortos e centenas de feridos.
Outros eventos marcantes incluem o tornado que atingiu Itu (SP) em 1991, com 15 vítimas fatais, e o episódio de Marechal Cândido Rondon (PR) em 2015, que destruiu mais de 1.500 residências.
O tornado mais recente, registrado em Rio Bonito do Iguaçu (PR), foi classificado como F3 na Escala Fujita — com ventos que ultrapassaram 300 km/h — e integrou o mesmo sistema de tempestades que afetou Guarapuava e Turvo, também no Paraná.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, pesquisadores analisam o efeito dos ventos sobre edificações em um dos laboratórios mais avançados da América Latina.
“Nós construímos um prédio totalmente instrumentado com sensores, simulando várias incidências do vento. Com isso conseguimos estimar a ação do vento sobre diferentes tipos de estruturas”, explica um dos professores responsáveis.
Os estudos indicam que as normas técnicas brasileiras já preveem velocidades máximas de vento — 180 km/h para construções em geral e até 200 km/h para hospitais e edifícios estratégicos. No entanto, muitos projetos ainda não incorporam essas especificações.
“Se todas as normas fossem seguidas, grande parte dos acidentes e colapsos estruturais não ocorreria”, aponta o especialista.
Com o aumento dos registros, cresce também a cobrança por investimentos em previsão e monitoramento meteorológico específicos para tempestades severas.
“Hoje já temos condições de prever com várias horas de antecedência as condições atmosféricas propícias à formação de tornados”, explica Ernani Lima. “Mas o Brasil ainda precisa desenvolver bastante essa capacidade.”
Enquanto isso, meteorologistas reforçam que a conscientização da população — saber identificar alertas e agir rapidamente — pode salvar vidas. “O vento é uma força da natureza impossível de conter, mas seus efeitos podem ser minimizados quando ciência e prevenção caminham lado a lado.”
Redação Guia São Miguel com informações do G1
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