Nesta semana, uma onda de internações e mortes por ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas trouxe uma pergunta simples e urgente para a frente: afinal, qual é a diferença entre etanol e metanol?
Dados oficiais do Ministério da Saúde, atualizados em 3 de outubro de 2025, confirmaram dezenas de registros de intoxicação por metanol no país — com São Paulo respondendo por mais de 90% das notificações — e dezenas de casos seguem em investigação. Autoridades de saúde orientam cuidado, procura imediata por atendimento em suspeitas e fiscalização do comércio.
Etanol (álcool etílico, fórmula CH₃CH₂OH) e metanol (álcool metílico ou álcool de madeira, fórmula CH₃OH) são moléculas parecidas: ambas são álcoois simples, líquidos incolores e solúveis em água. Mas pequenas diferenças químicas resultam em destinos biológicos e usos muito distintos.
O etanol é o componente psicoativo das bebidas alcoólicas produzidas para consumo humano; já o metanol é usado industrialmente como solvente, combustível e matéria-prima química. Exemplos: combustíveis, antifreeze, solventes industriais e alguns desinfetantes podem conter metanol.
Etanol: produzido por fermentação de açúcares (cana, milho, beterraba, etc.) e destilação, o etanol é usado como bebida (cerveja, vinho, destilados), combustível (álcool combustível em muitos países, inclusive no Brasil) e em produtos farmacêuticos e cosméticos. Consumido com moderação, o etanol pode produzir efeitos sociais e recreativos; em medicina, formas farmacêuticamente puras são usadas em antissépticos e como solventes.
Etanol (combustível/alcóol etílico para bebidas): tipicamente obtido por fermentação biológica de açúcares por leveduras (Saccharomyces), seguida de destilação para aumentar a concentração alcoólica e processos de purificação para fins industriais ou alimentícios. Bebidas alcoólicas têm etapas de controle sanitário e rotulagem que identificam teor alcoólico e origem.
O metanol em si causa efeitos por ser metabolizado no fígado em formaldeído e, depois, em ácido fórmico (formato), que são tóxicos.
O ácido fórmico interfere no metabolismo celular e afeta especialmente o nervo óptico — por isso a cegueira é uma das lesões clássicas — além de causar acidose metabólica severa, depressão do sistema nervoso central e dano multiorgânico.
Doses pequenas podem causar perda visual; doses um pouco maiores podem levar à morte se não houver tratamento rápido. Sintomas podem inicialmente ser inespecíficos (náusea, tontura) e evoluir para visão turva, dor retro-ocular, confusão, respiração acelerada e coma.
Dados clínicos referenciam que quantidades relativamente pequenas (ordens de 10–30 mL de metanol puro, dependendo do peso e tratamento) já podem causar cegueira e quantidades maiores podem ser letais. A progressão pode ser lenta — às vezes horas a dias — o que torna a suspeita e o diagnóstico precoce cruciais.
Em intoxicação por metanol, o tratamento imediato é essencial: medidas incluem correção da acidose, administração de antídotos (etanol ou fomepizol) que competem com o metabolismo do metanol e reduzem formação de metabólitos tóxicos, hemodiálise em casos graves para remover metanol e seus metabólitos, e suporte intensivo.
Por isso, ao menor sinal de ingestão de bebida suspeita ou sintomas compatíveis, a orientação é buscar atendimento médico imediatamente — não tentar remédios caseiros. O Ministério da Saúde reforça essa recomendação em orientações públicas.
O metanol pode entrar em bebidas alcoólicas de duas formas principais:
Erro de produção caseira/inesperado: fermentações mal feitas ou destilações caseiras podem concentrar metanol (em particular quando certas matérias-primas ou técnicas são usadas).
Adulteração criminosa: para baratear a produção ou aumentar o volume, criminosos podem misturar metanol (ou solventes que o contenham) em bebidas que serão vendidas como etílicas. Isso é perigoso porque aparência, cheiro e gosto podem não denunciar imediatamente a adulteração, e o consumidor só percebe quando já está intoxicado. Organizações de saúde internacional e ONG alertam que visualmente é impossível distinguir etanol de metanol em uma garrafa comum.
Os surtos recentes — iniciados em São Paulo e com notificações em outros estados — motivaram notas oficiais e fiscalizações municipais.
Em 3 de outubro de 2025, o Ministério da Saúde informou haver 113 registros de intoxicação por metanol (11 confirmados e 102 em investigação) segundo dados estaduais, e orientou busca precoce por atendimento médico.
Relatos e reportagens federais e estaduais registraram mortes confirmadas e em investigação, com São Paulo concentrando a maioria das notificações. As autoridades de vigilância sanitária e polícia vêm intensificando fiscalizações em bares, adegas e pontos de venda, e ações para identificar lotes e origens das bebidas adulteradas.
Evite consumir bebidas sem procedência ou sem rotulagem adequada (garrafas sem lacre, bebidas de origem duvidosa, "garranchos" vendidos informalmente).
Em eventos com bebida vendida em conta-gotas, certifique-se de procedência e nota fiscal quando possível.
Se você ou alguém ingeriu bebida suspeita e apresenta náusea intensa, dor abdominal, visão turva, dor atrás dos olhos, confusão ou dificuldade respiratória, procure pronto-socorro imediatamente e informe ao médico a suspeita de ingestão de álcool não identificável. Não espere para ver se melhora.
Etanol e metanol são álcoois próximos na estrutura, mas com destinos radicalmente distintos: o etanol é a base das bebidas alcoólicas e tem usos controlados para consumo humano; o metanol é tóxico e usado na indústria — quando ingerido, pode causar cegueira e morte.
Os episódios recentes no país lembram que o problema não é apenas químico, é também social e criminal: fiscalização, informação ao consumidor e resposta rápida da saúde pública são essenciais para evitar tragédias.
Redação Guia São Miguel